quarta-feira, 15 de setembro de 2010

RELATÓRIO DE CONCLUSÃO DO PROJETO EDUCATIVO CONHECIMENTO E CULTURA

Como nossos ancestrais se comunicavam

Roseleide Vitorino da Silva
Aluna do 6 Período de História - UERN, Assu.

O presente relatório tem por finalidade apresentar as atividades trabalhadas nas aulas ministradas em agosto/2010 com o Projeto Conhecimento e Cultura, realizadas com os alunos das oficinas de Reforço Escolar e Informática do Projeto Janduís. Um projeto social que atua no bairro Frutilândia, atendendo crianças e adolescentes de diversas áreas da cidade, o mesmo é coordenado pelo Sr. Alexandre Douglas e tem como parceiros atuantes, a Petrobrás e a Prefeitura municipal do Assú.

Para iniciar o tema que seria trabalhado em sala de aula, foi necessário que os alunos fizessem uma pesquisa relacionada ao conteúdo e metodologicamente orientados pela professora de informática, Maria Selma Venâncio Costa, realizaram através da internet, as pesquisas para discussão sobre os temas abordados.

O Projeto Conhecimento e Cultura – Como nossos ancestrais se comunicavam. Teve os seguintes objetivos:
  1. Conhecer como ocorreu o surgimento da escrita;
  2. Saber qual a importância das pinturas rupestres e a evolução do surgimento da escrita na humanidade;  
  3. Pesquisar e conhecer diferentes símbolos que representavam as escritas das antigas civilizações.
Partindo do texto de Dora Incontri, A árvore tinha de ser árvore? Foram desenvolvidas aulas com recursos de audiovisuais com apresentação em slides e textos para melhor acompanhamento dos alunos sobre o conteúdo. O estudo teve inicio com uma passagem pela Pré-História, para uma melhor compreensão do surgimento da escrita. A forma metodológica foi exposição dialogada, o fazer leitura e discutir com os alunos como viviam o homem antes da escrita. O estudo foi elaborado com base nos textos acadêmicos de alguns historiadores e pesquisadores das antigas civilizações como: Arnoud Hauser, André Prous, M. C. Giordani e especialistas nos estudos dos sítios arqueológicos existentes na região do Rio Grande do Norte como Maria Cristina Tenório. (Leia o relatório completo)

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

A guerra dos bárbaros - Resistência Indígena no Sertão do Rio Grande

Paulo Ricardo Tavares
Aluno do 6º Período de História, UERN - Assu

Ao nos depararmos com a simples palavra guerra logo inflama em nós um o sentimento de medo. O fato é que não gostamos de pronunciá-la e como consequência disto, surge a negação ou o esquecimento de atos atrozes que se passaram em nossas terras potiguares. É sabido que estas terras foram pisadas por guerreiros que se banharam em grandes quantidades de sangue inocente. Trata-se da violência do homem branco oriundo de Portugal para com os índios, a população originalmente brasileira. Para os indígenas, o fato de terem sido “descobertos” já constitui um drama de proporções enormes.

Os brancos com sua avidez e cobiça, negavam respeito a tudo. O que era considerado valoroso, em especial as terras, certamente consistia em alvo dos seus interesses. Partindo desta ótica é que se deu início ao que se intitula de luta pela terra e certamente é aqui que devemos aguçar a procura pelos motivos da má distribuição das terras. Ora, não era algo bom para os índios aceitar estes roubos e também as muitas violações dos seus direitos considerados mais elementares. Isto gerou a necessidade de os “selvagens” se defenderem. Portanto, é nesta perspectiva que damos início à discussão do período mais intenso da sua resistência na nossa região, trata-se do que chamamos de “A Guerra dos Bárbaros”.

Os brancos associavam o nome bárbaros aos índios, considerados por eles como adversários. Denise Mattos Monteiro (2000) nos dá uma boa denotação a respeito deste termo: “(...) portanto, na visão destes (colonizadores) sobre a resistência indígena, pois ‘bárbaros’ seriam aqueles que se recusavam a aceitar o poder e a cultura dos homens brancos” (Monteiro, 2000). Esse conflito foi um movimento de resistência dos índios brasileiros à dominação portuguesa que surgiu entre 1650 e 1720 e que de acordo com Denise Mattos Monteiro (2000), se deu após a expulsão dos holandeses quando os portugueses deram início à sua conquista pelo interior do Brasil, ou seja, ao projeto colonizador que consistia em “consolidar a colonização da faixa litorânea e, sobretudo, iniciar a marcha de conquista de áreas interioranas” (Mattos, 2000). A Capitania do Rio Grande acabou servindo como palco das maiores batalhas durante o conflito iniciado no ano de 1683, mas que teve maior relevância no ano de 1687. Diversos grupos de índios se envolveram no conflito contra os missionários, soldados e outros agentes da coroa que estavam empenhados em abrir espaço para a criação de gado.

Pois bem. De acordo com Câmara Cascudo (1955), após a expulsão dos holandeses, um quadro de desolação tomou conta da Capitania Rio Grande: “ficou devastada, a população quase desapareceu. Gados e plantios foram destruídos. Os flamengos tinham incendiado as casas principais, queimados livros de registros”. Com isto, o governo tomou medidas para uma reorganização da Capitania reconstruindo edifícios, a defesa da cidade e também deu início a uma política de povoamento como dito anteriormente. De acordo com Pedro Puntoni (2002), os colonos que faziam do interior sua morada, com a escassez de recursos para adquirirem escravos africanos, iam à captura dos nativos.

Se tratando do processo de colonização do sertão do Rio Grande, este sobreveio de maneira intensa apenas no final do ano de 1670 e o início de 1680. Este processo não se deu de forma pacífica, pois coincide com o início da Guerra dos Bárbaros ou Guerra do Açu. Foi neste período que os grupos indígenas se organizaram no sentido de resistir e defender as suas terras. Esse evento certamente seria marcado por uma série de conflitos desencadeados entre os indígenas e colonos habitantes do interior da capitania, que resultou no movimento expansionista português que, por sua, provocou o devassamento desta região concluindo assim, com a ratificação de várias tribos indígenas. (ler o texto completo)

IMAGEM E AUTOIMAGEM DO SEGUNDO REINADO

Paulo Ricardo Tavares
Aluno do 6° Período de História, UERN - Assu

Com a vinda dos primeiros instrumentos fotográficos ao Rio de Janeiro no ano de 1840 e algumas inovações tecnológicas neste campo, a fotografia se tornou algo relativamente habitual. O imperador juntamente com a elite começou a fazer uso reprodutivo destas imagens e no caso do imperador, o uso das fotografias serviria para disseminar a sua imagem para o restante do império. “O imperador representava a imagem do império nas exposições universais, e nada melhor que a fotografia para possibilitar essa identificação” (Mauad, p. 197). O fato é que, além de servir como forma eficiente de propagação da imagem destas elites do império, as fotografias fizeram com que aquelas classes interpostas da população alcançassem este mesmo tipo de técnica e arte, isto desde a corte até às imensas casas dos grandes produtores de café. Certamente isto colaborou de forma demasiada no processo de interiorização dos valores da elite nas camadas da população. Vale ressaltar que no século XIX as fotografias exerciam um estatuto de reprodução segura e fiel da realidade, grosso modo seria uma maneira objetiva de se representar, isenta de qualquer intervenção subjetiva, desta forma obedecendo às conjeturas da ciência moderna, considerada como ícone do progresso. A grande maioria da população aparentemente ignorava que os ângulos escolhidos, as vestimentas, as poses, assim como a iluminação, eram realizadas de acordo com a representação que o fotógrafo desejara passar de si mesmo. Percebe-se os hábitos cotidianos reproduzidos nessas imagens e toda estratégia “publicitária” dos fotógrafos cada vez mais numerosos com o intuito de ganhar uma clientela especial, a fotografia na família imperial.

“... foi o olhar dos estrangeiros que nos enquadrou, ao mesmo tempo que educava o nosso olhar, para que nós mesmos pudéssemos nos mirar nos espelhos da cultura importada de seus países de origem”. (Mauad, p. 184).

O fragmento do texto de Mauad logo acima servirá para discorrer sucintamente uma das ideias subjacentes presentes em “imagem e autoimagem no Segundo Reinado”. Seria o desvio de padrão de comportamento da grande maioria da população diante de um modelo europeu, algo constantemente evidenciado no texto de Mauad. Não obstante algumas famílias desejavam ser fotografadas com muita ostentação, ou seja, com base na pequena ética dos hábitos burgueses europeus. Mas em muitos casos, a população acabava absorvendo condutas sociais de origem europeia, quase que de maneira não intencional. Portanto a fotografia foi fator determinante por dar à população a sua autoimagem. Não se reduzia somente ao retrato em si, mas certamente também em relação à maneira e ao estilo europeu na qual as elites tanto demonstravam apreço e também à união direta com D. Pedro II, grande admirador das ciências e das artes e que foi o grande responsável pela vinda das tecnologias fotográficas ao país.

Noutra observação feita, a ideia subjacente estaria presente logo no título do texto de Ana Maria Mauad. O título certamente nos remete a um raciocínio um tanto curioso, trata-se de um problema social e porque não dizer também político? A autora afirma a existência de uma imagem do segundo reinado e que neste está contida uma autoimagem. Diante disto, surge um questionamento referente à identidade, ou seja, quem era o segundo reinado? O soberano, a nação ou os subordinados? Refiro-me a estes últimos como os súditos. O certo é que as pessoas são criadoras e propagadoras de imagens e que a história social trabalha exatamente no resgate da identidade dessas pessoas e que imagens estas produzem e/ou reproduzem.

Referências:
MAUAD, Ana Maria. Imagem e Auto Imagem do Segundo Reinado. In: NOVAIS, Fernando. História da vida privada no Brasil. Vol.2. São Paulo: Companhia das Letras, 1997.

O CÓDIGO DO SERTÃO

Paulo Ricardo Tavares
Aluno do 6° Período de História, UERN - Assu

Em “o código do sertão”, Maria Sylvia retrata a violência com uma espécie de conduta intrinsecamente ligada à sociedade daquela época, ou seja, dentro das comunidades presentes no sertão que se mantinham afastadas dos centros urbanos. O fato é que os casos sanguinários relatados no “o código do sertão” eram silenciosamente admitidos como forma de justificar e solucionar seus conflitos ou pelejas pessoais e até mesmo uma forma de manterem os seus sentimentos de honra e sua independência pessoal. Muitas situações e relações, aparentemente estáveis, se faziam presentes de maneira intercalada com algumas reações e situações de violência. Diante disso, alguns relacionamentos aparentemente amigáveis entre vizinhos e aqueles que mantinham certos laços de sangue, conviviam com um antagonismo claro, fazendo com que pessoas comuns se transformassem em criminosos.

A ideia subjacente do texto de Maria Sylvia, o código do sertão, é que não existia alternativa para as pessoas residentes naquele sertão senão a de continuar sobrevivendo com seus escassos meios de sustento naquela terra inóspita e rígida, assim como ter de conviver juntamente com a natureza e em lutas incessantes contra esta em constantes guerras, diante destes fatos o espírito destes destemidos sertanejos tornava-se a cada dia embrutecido. Tudo isso resultaria em uma cultura rude e primitiva que não dava possibilidade a esses sertanejos de se tornarem reais no mundo e nem de ter os ecos de sua expressão reconhecidos neste mundo. A estes, sobravam apenas o seu próprio modo de ser, ou seja, a sua existência física. A partir daí, a violência física como, por exemplo, as facadas no bucho e os golpes de enxadas na cabeça que em muitos casos, não raros, resultavam em ferimentos graves ou na morte, seriam tomadas como forma determinante no que diz respeito às resoluções dos conflitos existentes entre estas pessoas. Sendo assim, as situações onde envolviam o uso direto da violência seriam apresentadas como forma justificação em prol da defesa de “suas honras” e também como maneira de se apresentarem moldadas às questões culturais e sociais vivenciadas na região.

A segunda ideia subjacente que se faz presente no texto de Maria Sylvia trata-se de que os atos de violência no sertão se tornaram sancionados e positivos tornando-se assim, um padrão normal de conduta, algo banal e admitido publicamente. Com isto a violência adquire legalidade e se faz presente como um comportamento autoritário e permanente contribuindo constantemente na conduta nas diversas esferas da vida social e principalmente nas relações “entre iguais”. Portanto o caráter emergencial desse código que aprovou os atos de violência está amarrado às próprias condições de constituição e progresso social daquelas pessoas pobres e livres.

Referências:
FRANCO, Maria Sylvia de Carvalho. (1997). O código do sertão in Homens livres na ordem escravocrata. 4ª ed. São Paulo, Unesp.

Baixe o texto aqui

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

A RESISTÊNCIA INDÍGENA NO SERTÃO DO RIO GRANDE

Laelson Lourenço da Silva
Aluno do 6° Período de História, UERN - Assu

Após a expulsão dos holandeses, que dominaram o litoral norte por aproximadamente trinta anos, o processo de colonização portuguesa foi retomado. Isto significava adentrar o interior do território e conquistá-lo. Para que isso acontecesse a administração portuguesa precisava reestruturar parte de suas atividades produtivas, pois os prejuízos causados pelas guerras, secas e epidemias, além da destruição de alguns engenhos que se opuseram ao domínio holandês, aliados à concorrência com o açúcar produzido pelos holandeses nas Antilhas, prejudicaram sensivelmente a produção de açúcar, que era a principal produto e fonte de rendas.

Dentro dessa reorganização as capitanias passaram a ser governadas novamente por capitães-mores, pois havia a necessidade da diversificação das atividades econômicas rumo ao interior, tanto com o avanço pastoril rumo a essas terras interioranas, onde a colonização não havia chegado, como em busca de metais e pedras preciosas. No projeto português a conquista dessas áreas interioranas se daria mediante guerras, a serem movidas contra os índios, as chamadas “guerras justas”, e para isso foram designados os “capitães de infantaria das ordenanças”, que foram encarregados de estabelecer a ocupação dessas terras.
Este processo de ocupação se deu através de apropriações de terras, conquistadas sob o poder das armas e, neste processo de retomada da colonização, a Igreja Católica Romana voltaria a participar com as chamadas “missões volantes”. Fundadas por padres jesuítas, as primeiras missões de aldeamento na capitania do Rio Grande foram as missões de Guajiru, localizada no atual município de Extremoz, e a de São João Batista de Guaraíras, localizada no atual município de Arês.

Os Tapuias habitavam os estados da Bahia, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Paraíba, Ceará, Piauí e Maranhão, divididos em dois grandes grupos: Cariri e Tarairiú que eram subdivididos em várias tribos e vários dialetos. Os Tarairiús habitaram os vales do Açú, Apodi e Seridó, no Rio Grande do Norte. Dentre as tribos que foram identificadas na capitania do Rio Grande, podemos citar: JANDUÍ, ARIÚ, ARARIÚ, PEGA, CAMAÇÚ, TUCURIJÚ, SURUCU, JAVÓ, CANINDÉ, JENIPAPO, PAIACU, PAJEÚ, PANATI, ARIÚ, CABORÉ E COREMA. Vale ressaltar que muitos dos indígenas que ali estavam já haviam feitos alianças com os Holandeses no enfrentamento dos luso-brasileiros e por isso existia uma desconfiança de ambos os lados. Estas desconfianças aliadas à ocupação dos territórios indígenas de forma indiscriminada iriam culminar com o grande conflito que ficou conhecido como, a Guerra dos Bárbaros, tendo como principal palco dessa resistência, a capitania do Rio Grande.

A chamada “Guerra dos Bárbaros” ou “Levante do Gentio Tapuia” durou 42 anos, e aconteceu nos vales do Açú/Piranhas, Apodi e Seridó, no Rio Grande do Norte, estendendo-se até o Ceará, no vale do Jaguaribe. A luta foi travada pelos “Terços Paulistas” contra índios Tapuias. Começando em 1683 e só terminando em 1725, quando os “paulistas” foram dos quartéis do Arraial do Açú.

As tribos Tarairiús eram comandadas pelo rei Canindé, filho do rei Janduí. Por volta de 1670, aconteceu uma reunião do povo Tarairiú, em reação aos portugueses que ocupavam cada vez mais as suas terras com a criação de gado e lavouras. Alguns Historiadores denominaram esse evento de “Confederação dos Cariris, erroneamente, pois não chegou a ser uma confederação e o povo Cariri era outra nação Tapuia, não envolvida”. Aconteceram diversos ataques dos Tarairiús aos colonos que permaneceram ou tentaram se instalar nos vales. Em 1687, esses confrontos se tornaram gravíssimos, pois tinha se tornado frequente os índios dispersarem ou matarem o gado.

Em maio de 1688, saiu de Pernambuco o “Terço dos Pretos”, de Henrique Dias que recebeu os reforços de índios “mansos”, africanos e mestiços, seguindo para Açú, onde foi fundada a base de operações contra os índios Janduís. Na mesma época por ordem do Governador Geral do Brasil, foram libertos das prisões do Rio Grande os criminosos e degredados que se dispuseram a combater os índios do vale Piranhas/Açú.

Logo no primeiro confronto os Janduís reagiram e surpreenderam os “pretos” com armas de fogo, possivelmente fornecidas por piratas que entravam pela barra de Macau e subiam o rio Açú, até onde era possível navegar. Do século XVI ao XVIII, navios piratas se refugiavam entre o Rio Grande do Norte e o Ceará. Essa vantagem se deu por dois fatores: os Janduís estarem em maior número, e também devido às deserções das tropas conquistadoras, que pereciam da falta de dinheiro para adquirir armas, mantimentos e munições, bem como para pagamento do soldo aos oficiais.

É somente a partir do ano de 1690, que a guerra começa a tomar outro rumo, pois o Governador- geral da colônia decide reunir todas as forças que lutavam no sertão e direcioná-las para a capitania, culminando com o pedido de paz de algumas tribos Janduís. Acredita-se que a captura do chefe dos janduís – “Canindé” – por Domingos Jorge Velho, teria posto fim a resistência indígena nos sertões.

Os portugueses aldearam os Tarairiús sobreviventes e, sob o controle dos religiosos, extinguiram seus costumes e identidades; ocuparam seus vales e suas praias. Existem documentos de 1727, no Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, sobre assentamentos de escravos índios casados com escravos negros. O historiador Olavo de Medeiros desperta para a possível intenção dos senhores da época, de promover uma “completa extinção da etnia Tarairiú. (…) tal ocorrência, que é digna de um melhor estudo”.
Em 1844, os índios estavam virtualmente extintos. Os que ainda tinham sangue índio, em quase nada se pareciam com seus antepassados (a exceção eram os traços físicos), pois os nomes próprios a fala, a cultura, tudo então era português, imposto pela religião católica e uma forte discriminação social com pardos, caboclos e negros.

Os conflitos entre os colonizadores e os indígenas dos sertões se constituem a maior prova da resistência indígena à colonização Portuguesa. É inegável a valentia destes guerreiros nativos que apesar das degolas, dos aprisionamentos, cativeiros e reduções em aldeamentos jesuíticos que sofreram ao longo dos anos, conseguiram resistir por cerca de mais trinta anos, sempre lutando como podiam pela posse de suas terras para tentar vencer a cobiça e a colonização injusta dos Portugueses. Por não se submeter e tentar resistir às imposições dos colonizadores, os indígenas do Rio Grande e do Brasil, foram colonizados sob uma visão cultural preconceituosa e injusta, onde o nativo era tratado como “bárbaros” ou “infiéis”, culminando com o extermínio quase que completo da população indígena.

Há alguns anos, cinco estados brasileiros diziam não haver indígenas em seus territórios. Hoje, apenas um estado detém esta triste marca: Rio Grande do Norte. Nos outros quatro (Ceará, Piauí, Rio de Janeiro e Sergipe), comunidades indígenas reivindicaram suas identidades originais.

Referências:
MONTEIRO, Denise Mattos. Introdução à História do Rio Grande do Norte - Natal: Edufrn, 2000.
Filho, Olavo de Medeiros - ACONTECEU NA CAPITANIA DO RIO GRANDE - IHGRN, 1997.
Moura, Getúlio, 1962 – Um Rio Grande e Macau: Cronologia da História Geral / Getúlio Moura - Natal (RN): G. Moura, 2003.

OS QUILOMBOS MARANHENSES

Laelson Lourenço da Silva
Aluno do 6º Período de História, UERN - Assu 

No texto “Os quilombos maranhenses” Mathias Rönrig Assunção identifica uma multiplicação de quilombos no século XIX e ressalta que o Maranhão às vésperas da independência possuía a mais alta concentração escrava do império. Além de destacar alguns aspectos da sociedade escravista da época, o autor afirma que poucas fazendas do interior do Maranhão não tiveram quilombos ao seu redor, mas considera que o Maranhão pode ser considerada uma sociedade escravista tardia, pois é só no final do XVIII que a região apresentará uma escravidão agrícola plenamente desenvolvida. Além de efetuar uma tipologia dos quilombos e a atuação do estado, bem como a sua ação nos movimentos políticos e a sua contribuição para a economia da época, ele irá trabalhar também com a hipótese de que existiram quilombos que persistiram na região, os chamados quilombos endêmicos. Sugere também que os quilombos irão perder a referência africana ao longo dos tempos, devido as mudanças no perfil das lideranças. Igualmente ao que ocorrera em todas as regiões brasileiras, a condição de existência do cativo maranhense levou-o a fugir comumente e a formar quilombos. Dentro desta sistemática, o autor retrata como se deu a “Balaiada”, uma das revoltas populares mais importantes do país, tendo como vetor principal o recrutamento forçado (chamado de “pega” pelos camponeses), apontado como uma das causas principais e mais imediatas para a eclosão da revolta, demonstrando o caráter camponês dessa luta que envolveu milhares de homens e mulheres do interior maranhense. O autor atribui a alta concentração de quilombos no maranhão ao fato de que a área ocupado pelas fazendas escravistas situavam-se no limite da fronteira agrícola do Estado. Segundo ele, o número elevado de escravos, a existência de uma mata abundante e de uma fronteira que não era controlada pelo estado e a instabilidade política do período, foram fatores decisivos para esta multiplicação Destaca que havia uma predominância de quilombos de pequeno porte, que ocuparam as matas e mantinham um contato direto com a sociedade escravista, através de trocas ou apropriação. Esta interação entre os quilombolas e a sociedade escravista no comércio de seus produtos, é pautada constantemente por interrupções, haja vista que este tipo de comércio ficava prejudicado em épocas de ataques aos quilombos por parte do governo imperial.

Uma idéia secundária que o autor destaca no texto é quanto a sobrevivência dos quilombos. Este fato é atribuído não tão somente à localização dos quilombos em áreas de fronteiras, mas também, porque os seus integrantes não viviam totalmente isolados da sociedade. Ele esclarece que havia trocas de mercadorias entre os habitantes dos quilombos e os comerciantes locais, demonstrado que a economia interna desses grupos está longe de representar um aspecto isolado em relação às economias regionais da Colônia, do Império e da República. Nessa perspectiva, o autor levanta o argumento de que paralelamente à formação do aparato de perseguição aos fugitivos, existia uma rede de informações que ia desde as senzalas até muitos comerciantes locais. Estes últimos tinham grande interesse na manutenção desses grupos porque lucravam com as trocas de produtos agrícolas, por produtos que não eram produzidos no interior do quilombo. Por isso, o autor considera que os quilombos não podem ser vistos como inimigos da sociedade escravista da época, pois eles constituíram um segmento importante na produção de produtos para a região onde estavam situados. No entanto, frisa o autor, não podemos deixar de identificar alguns antagonismos existentes nesta relação.

Outra idéia do texto diz respeito á inserção de pessoas livres nos quilombos. Esta parte da população se ressentia da falta de apoio do estado imperial e sofria com os constantes recrutamentos e perseguições e buscavam refúgios nos quilombos, pois viam o recrutamento como uma forma de vida parecida com as dos quilombolas, pois os soldados passavam dias embrenhados nas matas. O autor busca destacar que a conivência entre estes homens livres e os quilombolas (que lhe davam treinamento no uso das armas), praticada no inicio em pequena escala, vai descambar em uma aliança futura. Esta ótica demonstra como era grande a distância que separava a classe senhorial da população livre e pobre e, como este fato contribuiu para que houvesse um relacionamento entre os quilombolas e os homens livres. Dentro desta vertente, os quilombos podem ser vistos como um ponto de refúgio não tão somente para os quilombolas, mas também para aqueles que eram excluídos pela política imperial. Este tipo de cooperativismo entre estes dois grupos reflete bem como era difícil a vida na sociedade maranhense da época, pois não só os negros fugiam do trabalho escravo e se refugiavam em quilombos. Os homens livres por viverem sujeitos a privações econômicas e a arbitrariedade por parte do governo e suas perseguições, também buscavam fugir, como os escravos, em busca de liberdade. Mesmo que esta liberdade significasse morar dentro das matas e os levassem a sofrer toda espécie de privações.

Referências:
ASSUNÇÃO, Matthias R. Quilombos maranhenses. In: REIS, João José & GOMES, Flávio dos.[Orgs.]. Liberdade por um fio: história dos quilombos no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1996. p. 434.

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CARAS E MODOS DOS MIGRANTES E IMIGRANTES

Laelson Lourenço da Silva
Aluno do 6º Período de História, UERN - Assu

A autora Maria Luiza Renaux trata do tema imigração, preocupação anterior ao fim do tráfico de escravos, por parte do império e dos grandes proprietários de terras. Maria Luiza faz a sua análise no contexto das fazendas de café do oeste paulista, com o imigrante sendo introduzido de forma gradual junto aos cativos. Este fato tem inicio à época em que o governo joanino adota as políticas imigrantista dando incentivo para a vinda de europeus para o Brasil no estabelecimento de colônias de europeus em terras do Rio de Janeiro, São Paulo e nas províncias do Sul, combinada com medidas restritivas ao tráfico no ano de 1818. Entretanto, ressalta a autora, até meados do século XIX, tanto a política de imigração como a agrária permanecem ilusórias, pois a política agrária continua a ser controlada pelos fazendeiros que introduziam um número cada vez maior de escravos africanos no Brasil. Maria Luiza discorre sobre o embate ocorrido entre as duas correntes que se digladiaram durante o período em que o governo imperial implanta a política de imigração. Dentro desta vertente a autora demonstra como o fim do tráfico de escravos leva a um embate entre os fazendeiros, preocupados em atrair novos braços para dar continuidade à política da grande propriedade e a agricultura de exportação. Sabedor desta deficiência o império põe em prática um projeto para trazer para o Brasil, imigrantes que poderiam inclusive ter dupla função: resolver a deficiência da mão-de-obra e formar um povo qualificado para a nação. Isto porque havia também um grande preconceito com o trabalhador nacional, ou seja, com a mão-de-obra disponível: o ex-escravo alforriado. No entanto, o império não pensava em uma substituição de mão de obra, e sim um sistema de loteamento que propiciasse novos pólos produtores e as terras públicas teriam sido o primeiro atrativo para convencer novos imigrantes a virem para o Brasil. Porém a elite imperial estava preocupada com quem se estabeleceria nessa terra e iria fazer parte da sociedade brasileira, pois a questão do trabalho e da imigração estava intimamente ligada ao conjunto de famílias que formariam a futura sociedade brasileira. Haja vista que os modos e costumes eram construídos na colônia, se mostrava necessária uma maior presença de europeus como força de trabalho. A autora busca sistematicamente revelar detalhes sobre estes imigrantes, passando pela sua naturalidade, até a maneira como se adaptaram a um país estranho e como introduziram costumes e hábitos alimentares, bem como as suas práticas sociais e religiosas, dentro de uma nação em construção.

Em uma idéia secundária do texto, a autora vai discorrer sobre a preservação da identidade cultural dos imigrantes Alemães. Essas comunidades, as chamadas “Falsas Europas”, conseguiram através da construção de igrejas e escolas, que ensinavam a língua Alemã, preservar parte dos costumes da sua terra natal. A vinda de estrangeiros emigrados gera uma nova necessidade para Igreja católica do Brasil: atender espiritualmente toda essa leva de indivíduos de diferentes línguas. O governo passa a incentivar a vinda de ordens e congregações religiosas para suprir carência de escolarização destes imigrantes, bem como assistência hospitalar e religiosa

Assim, o Brasil passa a receber não só os colonos europeus, mas também imigrantes religiosos. No entanto, o estado brasileiro não tinha uma atuação constante junto a essas populações imigrantes, o que faz com que esses grupos sobrevivam diante de muitas privações. Diante disso, eles vão tentar suprir essas carências por meio de sua própria organização, como no caso dos imigrantes alemães, muito embora existisse entre eles uma grande heterogeneidade. Dentre estes imigrantes se manifestará um sentimento de cooperativismo em busca de edificarem igrejas e escolas. Dentro do modelo educacional implantado, as cartilhas escolares, por sua vez, deixam claro que o que se queria promover nas escolas era a consciência de uma comunidade alemã e ao mesmo tempo de cidadania brasileira, buscando-se com isso a inclusão da população de origem alemã no Estado brasileiro. Não deixavam de lado a nação brasileira, mas priorizavam a valorização dos aspectos de vida da terra natal.

Em outra idéia colocada pela autora se pergunta: o imigrante se tornou o cidadão brasileiro pensado pela elite imperial? haja vista, que ausência do Estado nos espaços onde residiam os imigrantes estrangeiros vai além da questão educacional, ou mesmo religiosa? a resposta é: não. Diante da marcante presença de estrangeiros no país a Igreja e a escola desempenharam significativo papel normalizador de condutas sociais no meio destas colônias de alemães. A igreja por ser uma instituição capaz de integrar os indivíduos entorno de um núcleo colonial com identidade, costumes próprios e a escola pela ausência de uma política educacional por parte do governo brasileiro. Esta ausência abriu espaços para que se ensinassem a língua alemã e muitas vezes com professores vindos da própria Alemanha. Esse sistema educacional das comunidades alemãs no exterior irá ser influenciado pela elite intelectual alemã e será visto com o decorrer dos tempos, como um perigo à integridade nacional brasileira.

Em outra idéia subjacente a autora busca refletir sobre a mudança no comportamento das duas correntes, no que se refere ao debate sobre as caras e modos dos imigrantes, ocorrido entre os fazendeiros e a burocracia imperial sobre a naturalidade dos imigrantes. Verificou-se uma diminuição no debate entre estas duas correntes que buscavam o controle da política imigracionista no Brasil, já que a grande leva de imigrantes Portugueses, Espanhóis e Italianos chegaram a atender, em um determinado momento, às necessidades de ambas as partes. A entrada desta mão-de-obra estrangeira serviu à propósitos distintos: aos fazendeiros, que lhes interessava a “imigração” de europeus, destinados a diminuir os déficits de trabalhadores livres nas fazendas e aos governos, que viam assim atendidas as suas expectativas culturais no que se refere ao uso da imigração como instrumento de “civilização”. É importante essa discussão, pois ela reflete como a imigração no Brasil desde o seu princípio, se mostrou permeada de interesses tanto cultural, como econômico, por parte dos grupos que formavam as classes dominantes no Brasil. Se de um lado, aos fazendeiros não importavam a naturalidade do imigrante, pois buscavam apenas braços para trabalharem em suas lavoras; Para o império, os imigrantes precisavam atender a todos os requisitos, tanto o econômico, como o cultural.

Referências
ALENCASTRO, Luiz Felipe e RENAUX, Maria Luiza. Caras e modos dos migrantes e imigrantes. In: História da vida privada no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. pp. 303-305. V. 2.

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